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Características da maneira latino-americana de administrar

 

Fonte: Jornal O Globo Caderno Boa Chance de 04/01/2009


A cultura de um povo tem um grande impacto na maneira de se administrar uma empresa, o que, por sua vez, tem um grande impacto no ambiente organizacional. O Caderno Boa Chance do jornal O Globo ouviu vários especialistas que identificaram algumas das diferenças existentes entre a maneira latino-americana e a anglo-saxônica de se administrar. Vale conferir e comparar com o que existe em sua empresa:


Autoritarismo


Na cultura latino-americana a autoridade se sobrepõe aos argumentos. Enquanto na cultura anglo-saxônica o chefe espera que você discorde dele e exponha seus argumentos, por aqui é muito difícil alguém se “expor”, prevalecendo o famoso “manda quem pode obedece quem tem juízo”. Por isso algumas práticas de gestão recomendadas por especialistas do hemisfério norte, como o walking around não funcionam bem em países latinos. Este traço cultural gera um grande problema, pois inibe a iniciativa e a inovação.


Cabe então aos dirigentes, considerando essa característica, implantar práticas de gestão que criem um ambiente no qual as pessoas se sintam à vontade para contribuir para a melhoria do desempenho da empresa, criando uma cultura favorável à iniciativa e à inovação.


Paternalismo


No modo latino de administrar, a relação é de família, enquanto na cultura anglo-saxônica a metáfora é de time. No time o que importa são os resultados e a competência, e se um jogador não vai bem ele é substituído. Na família a relação é paternalista, que estabelece um ambiente de dependência e lealdade. Por isso demora-se mais para demitir, comunica-se a demissão de forma diferente e ainda assim quem demite corre o risco de ser visto pela sua equipe como um monstro. Essa postura torna o ambiente de trabalho mais harmonioso, mas por outro lado não favorece a produtividade.


É interessante notar que Deming, um dos maiores gurus da administração moderna, chamava a prática de oferecer recompensas individuais pelo desempenho como uma das sete (7) doenças fatais que levam á morte uma organização, por destruir o espírito de equipe. Cabe então aos dirigentes criarem práticas de gestão que estimulem o trabalho em equipe, reconhecendo e premiando os resultados dos times, buscando uma cultura de melhoria contínua, levando em consideração nossa cultura paternalista.


Coletivismo


O latino-americano rejeita o individualismo exagerado, o comportamento egoísta. O indivíduo espera ser cuidado pelo grupo e, em troca, oferece lealdade. É um modo de pensar que torna as relações de trabalho menos conflituosas, mas que, ao mesmo tempo, corrobora o paternalismo.


Este traço cultural demonstra a importância das relações sociais dentro da empresa. As pessoas buscam provas de confiança antes de se comprometerem e retribuírem com lealdade. Por isso são importantes eventos que envolvam toda a coletividade da empresa, para que as pessoas se sintam parte da empresa, sintam que o grupo conta com elas, que seu trabalho é valorizado pelo grupo. Com isso as pessoas vão retribuir com comprometimento, que associado ao conhecimento gera produtividade.


Flexibilidade


Os latinos estão acostumados a fazer mais com menos, sempre trabalhando com estruturas mais enxutas e de se adaptar mais facilmente. O famoso “jogo de cintura” ou o “jeitinho brasileiro” contribuem para uma adaptação mais rápida a situações adversas e serve de estímulo à criatividade.


Cabe então aos dirigentes da empresa aproveitar este traço extremamente positivo de nossa cultura evitando criar uma empresa excessivamente burocrática, que iniba as iniciativas individuais e sendo ágil e transparente no seu sistema de comunicação interna, de modo a obter a colaboração de todos na adaptação da empresa para enfrentar novos desafios

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